A flor de jade

7/4/2020

Amor.
Você lembra quando compramos aquela muda de jade? Faz muito tempo. Plantei aquela mudinha de trepadeira e ela cresceu. Cuidei dela durante anos. E nunca deu uma flor. Aliás, só aconteceu uma vez, nem lembro direito, quando apareceu um tímido cacho de flor de jade. Ficamos decepcionados. Parecia que a planta estava com vergonha. E nunca mais deu flor.

Ontem, dia 6 de abril, uma segunda-feira, olho para trepadeira e vejo um enorme cacho de jade. Já crescido e... lindo! Notei que tem mais um cacho vermelho e grande na parte de cima da planta, mas está sobre a folhagem e não dá pra ver bem, porque não está caído. Então são 2 cachos de jade.

Mais uma vez imagino que isso é um sinal vindo de você, mandando sinais de que está por perto e fazendo coisas diferentes, que só eu e você sabemos e entendemos, como foi com o beija-flor, e agora com a jade.

A jade é o brilho vindo de você, com vigor, dizendo que você está bem, brilhante, viva e jovial. Isso me dá muito conforto porque indica que você está comigo e cuidando de mim. Estou de bem com a vida.

Saudades. Te Amo. 




A volta do beija-flor


Estou muito feliz e reconfortado. Estávamos eu, meus pais (Ary e Fernanda) e meu filho (Tadeu) na sala de jantar e cozinha, quando Tadeu gritou apontando um beija-flor que voava dentro de casa, rodando na cozinha e na sala de jantar, sobre nossas cabeças. Fui tomado por uma euforia, ao ver o beija-flor balançando as asas na minha frente. Isso durou 10 segundos, porque abri as janelas da cozinha e ele foi embora saindo pela área de serviço.

Fiquei emocionado. Era a Regina dando sinal que eu tanto queria. O beija-flor apareceu dentro de casa me dizendo que a minha amada está perto de nós, nos olhando, nos cuidando. Tudo isso tem um significado, ou não. Depende apenas de como desejamos viver a vida. Segundo o Bernardo, o beija flor tem a energia da Regina. E, se ele veio até nós, é porque a Regina está entre nós. Sempre!

O aparecimento do beija-flor dentro de casa me deu paz. De alguma forma, a Regina encontrou um jeito de me dizer que está bem. Passei o resto do dia, e do seguinte, pensando por que o beija flor voltou exatamente no dia 27-03-2020 às 9 horas e pouco da manhã. Deveria haver uma razão. 

Curiosamente, eu e Regina, sempre víamos o beija flor voando entre as helicônias, se alimentando delas, nos meses anteriores de sua partida. E sempre estávamos na sala de jantar ou na cozinha, para vê-lo durante longo tempo, diariamente. Por que ele voltou nesse dia e horário? Alguma explicação havia de existir. E algo me veio à mente, que faz todo sentido.

No dia 27-02-2020, dia anterior ao falecimento da minha amada, aconteceu algo muito marcante... e mágico. Nesse dia, a Regina já estava muito sedada, sob efeito de remédios fortes intravenosos, que praticamente a colocava em sono profundo continuamente, com raríssimos momentos de consciência. Sabíamos que vivíamos a reta final.

Por volta das 9 horas e pouco da manhã, de forma surpreendente e inesperada, a Regina acordou em plena paz, com semblante tranquilo, com aparente saúde e falou conosco. Bernardo, Tadeu, Lizandro (técnico de enfermagem do serviço de homecare) e eu estávamos na sala (onde montamos um quarto para ela) e a Suely na cozinha.

Regina colocou a mão no rosto do Bernardo e disse que ele deveria estar com febre, por conta do sol que pegou no carnaval. Ela fez carinho no Bernardo e no Tadeu. Disse que estava se sentindo bem, que não sentia dor, que estava tranquila, em paz, e pediu para que todos não se preocupassem com ela. Ela se virou para mim, pôs a mão no meu rosto, me acariciou, e pediu para eu ficar tranquilo. Olhou para o Lizandro e agradeceu todo o carinho dele. Eu chamei a Suely, que veio da cozinha para falar com a Regina, e também recebeu o carinho dela.

Eu sentia a clara sensação que estávamos vivendo ali um momento divino, algo extraordinário estava acontecendo. Eu sentia uma enorme paz, um bem estar profundo e um sentimento que a Regina estava realmente bem, sabendo do desfecho e nos acalmando. A minha sensação é que a sala estava iluminada, havia uma luz divina sobre nós naquele momento. Havia muita energia no ar e aquele instante era o ápice de tudo que havíamos vivido. A minha sensação é que eu não estava mais diante da Regina que eu conhecia, mas sim diante de uma santa, uma divindade, alguém que já não estava mais na Terra. Eu nunca havia sentido isso antes. Foi algo cercado de magia e luz. Esse momento profundo e aparentemente infinito, durou apenas 7 minutos, aproximadamente.

A Regina agradeceu todo mundo, pelo cuidado, amor e carinho que todos davam a ela. A minha amada falava com uma voz pausada e carinhosa, sorrindo, dando luz, paz e conforto para todos. Aquilo foi de fato uma despedida. Ali ela estava nos deixando e dizendo que estava indo em paz, de bem com a vida, com amor no coração e carinho por todos. Durante aqueles minutos eu me senti em paz.

Aquele foi o último momento de consciência da Regina. Desde aquele momento, até o dia seguinte, dia 28-02, às 11h35, quando ela faleceu, ela não teve mais consciência.

A volta do beija flor no dia 27-03-2020, por volta das 9 horas e pouco, foi exatamente 1 mês depois desse momento mágico que descrevi acima. Parece que a minha amada, na forma de beija flor, veio até nós para nos dizer que está bem, que está em paz, que está nos olhando e cuidando da gente, que está liberta e feliz.

É impossível dimensionar o tamanho da minha felicidade e paz de espírito com esse voo do beija flor sobre nossas cabeças. Foi algo que mostra que ainda conseguirei me relacionar com a minha amada daqui para frente.

Ao longo dos dias 27 e 28-03-2020, por diversas vezes, eu senti rajadas de brisa forte me refrescando, de corpo e alma, me dando sinais de que a Regina está ao meu redor, me cuidando e se comunicando comigo. E, desde esse acontecimento, o beija-flor vem todos os dias beijar as helicônias. Isso tudo me dá mais confiança de seguir em frente, sempre com ela do meu lado.


O beija-flor


A nossa amada Regina nos deixou em 28 de fevereiro de 2020. 

A nossa de sala de jantar na casa do Recreio tem uma janela enorme para o jardim, onde nós vemos uma helicônia gigante, que é uma planta linda, muito verde, com flores exóticas e coloridas, que a Regina adorava.

Nas últimas semanas de vida da Regina, eu e ela passávamos muito tempo nessa sala. Pela enorme janela nós vínhamos um beija-flor bailar por entre as flores, por longo períodos, “beijando” todas as flores. Muitas vezes ele pousava para descansar, o que não nos parecia algo comum para beija-flores. Foi assim durante semanas ao longo dos meses de janeiro e fevereiro. Para nós, era sempre o mesmo beija-flor.

Assim que a amada Regina nos deixou em 28 de fevereiro, eu e meus filhos Tadeu e Bernardo ficamos na casa do Recreio por 7 dias seguidos. E, nesse período de tempo, por muitas e muitas vezes, o beija-flor voltou ao mesmo local, agora sem mais a Regina entre nós. Aquilo batia forte em meu coração. Bernardo se emocionava porque dizia que o beija-flor era a Regina, vindo nos ver para ver se estava tudo bem. Foi assim ao longo de 7 dias, durante diversos momentos ao longo dos dias. O beija-flor ali, sempre voando ou pousado, nos olhando. No último dia, antes de sairmos de casa, o Bernardo fez um vídeo, que está anexado nesse texto. No dia seguinte a casa ficou vazia, pois partimos para Paraty, e depois fui para São Paulo com Bernardo. Fiquei ausente da casa do Recreio por 7 dias.

Hoje, quando escrevo esse texto, já faz 3 dias que estou na casa do Recreio novamente, e nunca mais o beija-flor veio passear nas helicônias. Todas as vezes que me encosto no parapeito da janela, ou me reclino na cadeira da mesa de jantar, tento ver o nosso amigo alado... mas ele não está lá.

Bernardo diz que faz sentido que ele tenha partido. Ele acha que a energia da nossa amada Regina ficou no beija-flor, que acompanhou a gente nos dias seguintes para ver a gente de perto. Mas com a gente viajando, a casa esvaziando, ele, ou ela, também tomou outro rumo e a energia agora está em outros lugares. Em toda parte, na verdade.

As vezes eu sinto uma saudade profunda, chega a doer, mesmo sentindo que ela está o tempo todo dentro de mim. É algo muito bom e positivo. Fico pensando o tempo todo nela.

A história do beija-flor vai ficar para sempre entre nós. Ele, ou ela, acompanhou a gente, viu que estamos bem, e se foi.


O primeiro dia de trabalho


O garoto chegou ao seu primeiro dia de trabalho. Era um edifício enorme. Não sabia direito como fazer. Era uma grande empresa, com milhares de funcionários e admirada pelo mercado. Estava contente pela conquista do emprego e, na verdade, aquele era o primeiro de sua vida.

Terno novo, barba impecável, cabelo penteado. Chegou cedo. "Não vou vacilar no primeiro dia".

Calculou mal o tempo e chegou cedo demais. Eram sete horas da manhã e não havia ninguém na recepção para autorizar sua entrada. Como fazer? Resolveu sentar no sofá ao lado da recepção.

Poucos minutos depois, surgiu um senhor, que exclamou:
- Oi rapaz, bom dia, qual é o seu nome?

O garoto, surpreso, respondeu. E o senhor retornou:
- Meu nome é Miguel, o que está fazendo aí? Esperando alguém?

Ele explicou que era o seu primeiro dia de trabalho na nova empresa.

O senhor de cabelo branco sorriu, simpático, e respondeu:
- Vamos lá, entra comigo, vou tomar um café rápido. Quer ir comigo?

O garoto aceitou desconfiado, mas topou porque seria uma forma de entrar no prédio. Entraram numa lanchonete linda, ao lado de um restaurante bem grande. O senhor entrou na fila, onde havia apenas duas pessoas, e perguntou para o garoto se ele queria comer algo. O garoto ficou ao lado dele.

"Quem é esse cara? Por que ele está fazendo aquilo?"
"Deve ser um aposentado"
"Quem se interessaria por um garoto perdido na porta do prédio que não fosse alguém com tempo sobrando?"
O garoto divagava nesses pensamentos...

O senhor fez muitas perguntas para o garoto: o que faz, do que gosta, porque ele tinha escolhido aquela empresa, quais eram os sonhos dele no trabalho. Depois de minutos os dois já estavam sorrindo como se fossem velhos amigos. O garoto já gostava do "bom velhinho".

No final, o senhor falou para o garoto passar no décimo andar quando pudesse. E terminou: "Quando chegar lá, pergunte pelo Miguel, o pessoal vai saber dizer".

O resto do dia foi muito bom. O garoto conheceu pessoas legais, foi bem recebido, ficou impressionado com o gigantismo da empresa, que operava em diversas partes do mundo, e se assustou com a responsabilidade que iria receber.

No final do dia, o garoto, feliz, resolveu dar uma passadinha no décimo andar para falar com aquele senhor do café. Tomou o elevador e desceu no andar indicado. Era um andar diferente. "Que lugar bacana". A porta de vidro se abriu automaticamente e a secretária sorriu.

O garoto disse que queria falar com o Miguel. A secretária respondeu: "Ahhh, você é o garoto com quem o Miguel tomou café de manhã hoje cedo. Pode entrar". E apontou para uma porta grande ao seu lado. O garoto olhou, e havia uma plaquinha pequenina escrita "Presidente".

O garoto sorriu e, de repente, aquele senhor apareceu na porta. Pôs a mão no ombro do garoto e exclamou: "E aí? Paga o café?"

O avô, o neto e a máquina de escrever


Eric olhou, olhou de novo, deu um passo pro lado para ver melhor, mas ele ainda não havia entendido para o que aquilo servia.

O avô exclamou:
– É uma máquina de escrever.

Escrever? Huuummmm, isso o Eric sabia. Ele tinha recém aprendido a ler e escrever. Olhou para aquilo e reconheceu as letras desenhadas nas teclas redondinhas.

Levantou o rosto e fitando o avô soltou:
– Parece um teclado, mas cadê a tela? Este computador tá quebrado?

O avô apenas sorriu e disse que aquilo não era um computador. Repetiu que era uma máquina de escrever. O semblante do neto não mudou. Ele ainda não entendia como aquilo funcionava, nem para que servia.

O avô pegou uma folha em branco e introduziu na máquina. Puxou uma pequena alavanca, colocou a folha no espaço correto, girou o rolo e voltou a alavanca para a posição original. Tudo isso acompanhado de uma série de barulhos mecânicos. O avô, então, apertou em sequência quatro teclas: E – R – I – C.

O barulho das batidas assustou o neto, que deu um passo para trás e exclamou:
– Vô, tá quebrado?

O avô riu. E mostrou no papel o nome do neto. Eric se aproximou e deu um sorriso:
– É meu nome!

O avô abraçou o neto e deu um beijo em sua testa. Eric, fazendo pouco caso do beijo do avô, perguntou:
– Vô, como faz?

O avô escreveu outras palavras para mostrar como fazer.

Eric então decidiu tentar. Mas, ao pressionar as teclas, sentido dificuldade, olhou para o avô:
– As teclas estão duras. Este computador tá quebrado.

O avô explicou que aquela era uma máquina mecânica, que tinha de fazer força, que quando ele apertava as teclas, aquilo nada mais era que uma alavanca. Eric não parecia muito interessado. O avô, então, chamou-o para ver atrás da máquina:
– Viu? Não tem fio ligado na tomada. Esta máquina é puramente mecânica.

A esta altura, Eric já havia descoberto a máquina e começara a escrever várias palavras. Sentia alguma dificuldade, pois as teclas continuavam duras, mas estava se divertindo. A diversão durou exatos 5 minutos. Eric se afastou da máquina e, virando-se para o avô, exclamou:
– Vô. Eu ainda não entendi direito para que serve, mas este computador tem uma coisa melhor do que o meu.

O avô chegou mais perto do neto, levantou os olhos por cima dos óculos, sorriu e perguntou:
– Diga então. O que você gostou na máquina?

E Eric respondeu:
– Olha só, a gente bate aqui e ele já imprime na impressora. E eu nem tenho impressora…

Catarata

Ontem à noite a minha mãe fez a cirurgia da catarata. Foi um sucesso. Trouxe ela pra minha casa. Após décadas passadas, nós dormirmos juntos na mesma cama novamente. Foi muuuito divertido. Antes ela cuidava de mim, agora eu cuido dela, como tem que ser. Ela estava espirituosa, relaxada, feliz, falante e trajada de pirata, afinal ela tinha um tampão no olho direito. Hoje, de manhã, ao acordar, rimos um bocado. Contei que eu não lembrava que ela roncava muito alto, e ela me disse que eu também tenho um ronco de leão. Enfim, concluímos que fizemos uma sinfonia de metais(graves!!) durante a madrugada. 
Hoje cedo, ainda com um tampão transparente na olho, ela me disse que já estava vendo tudo. Na mesa do café, na euforia da novidade, peguei a primeira coisa que tinha na mesa para ela ler e mostrar como estava afiada a visão. Ela pegou o pote e leu: "molho de chimichurri". 
Em resumo, a primeira leitura da minha mãe pós cirurgia foi: "chimichurri" 

Aniversário

Meu sobrinho de 11 anos me liga para dar os parabéns pelo aniversário: "Tio, parabéns!"
Pergunto a ele: "Você sabe quantos anos eu estou fazendo hoje?"
A linha fica muda. Acho que ele não estava preparado para isso.
Repito a mesma pergunta.
Ele responde: "71?"
Aí pensei em falar: "Puxa, você passou perto"
Mas fiquei com medo dele responder: "73?"
Foi melhor não perguntar

Aparelho

Fui enganado!!
Hoje foi retirado o aparelho fixo dos meus dentes, mas descobri que terei que usar um aparelho móvel por um ano. Além disso tem uma tal de contenção que ficará presa nos dentes de baixo por toda a vida. Frustração total!!
A retirada do aparelho fixo é uma experiência dantesca. É bem verdade que eu me acostumei com os instrumentos de tortura medieval usados pela minha querida dentista ao longo dos 2 últimos anos. São alicates de corte, torniquetes, alicates de bico, toda sorte de tortura que você pode imaginar aplicada à sua boca... quase as mesmas ferramentas que encontramos na malinha do técnico eletricista e do torneiro hidráulico que vão na sua casa para fazer a obra da cozinha, sacou? Enfim, foram pequenas torturas mensais ao longo do tempo, mas foi na retirada do aparelho que a dentista teve a chance de usar todo o arsenal medieval. Foi quase um Dia D, uma espécie de invasão da Normandia na sua boca.
Independentemente de tudo isso, hoje voltei a comer milho na espiga, pequeno mimo que não tive nos últimos 2 anos.

Lanchinho

Vôo de hoje de BH para o Rio.
Tô lá no fundão do avião. Chega um cara fortão, halterofilista com certeza, cabelo espetado, camiseta amarela destacando o bração, tênis vermelho e mochila verde da Nike nas costas.
O voo levanta e as aeromoças da GOL começam a servir a deliciosa água pra gente. Imediatamente o fortão abre a mochila que estava abaixo de suas pernas e tira uma... marmita e... uma colher.
Antes que me perguntem: era frango, arroz, cenoura e alface.
Ahhhh, antes que me perguntem também: o cheiro da comida invadiu o avião todo.

Raio-X

Cena de hoje no aeroporto, às 5h45 da manhã.
Estou na fila do raio-x e na minha frente tem um senhor muito humilde com uma mochila bem surrada. Ele coloca a mochila no raio-x. A mochila não sai do outro lado. O segurança vai e volta com a mochila várias vezes. Sinto que está rolando um burburinho entre os seguranças. Todos se falando pelo rádio.
O segurança pede para o senhor abrir a mochila, sendo cercado pelos seguranças do aeroporto. Rola uma apreensão no ar. O senhor abre a velha mochila de forma rápida. Surge uma furadeira muito velha e uma longa extensão elétrica.
O segurança exclama: "O senhor não pode levar isso dentro do avião".
Ele responde: "Eu tenho essa furadeira tem mais de 20 anos" - E fala baixinho para ele mesmo: "Bem que minha mulher disse que isso ia dar problema".

Saí da confusão sem esperar a conclusão. Olhei para um dos seguranças que exclamou: "Pensamos que podia ser uma arma".
Quinze minutos depois , caminhando pela área de embarque, surge o senhor com a mochila nas costas. Não resisti e perguntei pela furadeira. Ele bateu com as mãos nas costas, dando a entender que a querida furadeira estava dentro da mochila. E disse - "falei para eles que a furadeira só funciona se for ligada na tomada", e sorriu.

Terceira idade

Acabei de pousar em Congonhas e cruzar com um grupo de terceira idade, que certamente estava embarcando para uma viagem. Todos de cabeça branca, alguns poucos carecas. Muitos casais. Algumas bandeirinhas coloridas nas mãos dos guias. Todos felizes, sorrindo, se abraçando, alguns se conhecendo pela primeira vez. Uma sensação imensa de felicidade e serenidade. Deu uma vontade danada de me juntar ao grupo e participar da caravana.

Banheiro

Na sala de embarque no aeroporto de Viracopos.
Mãe e filha sentadas perto de mim.
Estamos em frente às portas dos banheiros masculino e feminino.

A filha fala para a mãe:
-- Mãe, eu nunca entrei num banheiro masculino.

A mãe responde:
-- É para não entrar mesmo.

A conversa continua:
-- Mas eu queria saber como é que é.
-- Pra que? Você é menina.
-- É curiosidade.
-- É tudo igual. Banheiros dos homens e mulheres são a mesma coisa.
-- Não é não. Se fossem iguais, não existiriam dois banheiros diferentes.
-- E por que você acha que é diferente?
-- Puxa, mãe, você sabe. Homem e mulher é diferente. Eu tenho que explicar tudo sempre pra você.

A mãe não gosta da resposta. Olha para filha com ar de reprovação.

A mãe insiste:
-- Banheiro é tudo igual.

A filha retruca:
-- Então você já entrou no banheiro dos homens. Se você diz que é tudo igual é porque já entrou. Peguei você!!

A mãe olha para a menina... ameaçando um sorriso :) Ficam em silêncio.

Dois minutos depois, volta a filha:
-- Eu queria ver como é o banheiro dos homens por dentro.

O alto-falante chama o meu vôo e eu tenho que sair.
Pelo visto a conversa entre elas vai longe :)

Tatuagem

Entro no táxi em Congonhas. O motorista é jovem, todo tatuado com imagens de fuzis e metralhadoras nos braços, usa cavanhaque e tem expressão muito séria. Me chama de senhor. Fez questão de pegar minha mala e colocar no bagageiro. Um "gentleman". Vejo uma miniatura de luva de boxe pendurada no retrovisor. Tem um pequeno tablet preso na frente do odômetro onde entram dezenas de mensagens durante toda minha viagem, sempre em silêncio.
Ao sair com o carro do aeroporto, ele fecha os vidros, liga o ar condicionado, silêncio quase total dentro do cubículo... e coloca uma música clássica absolutamente espetacular, em alta fidelidade.
Foi uma das melhores viagens de táxi que já fiz. Pela primeira vez gostei muito de estar num engarrafamento.

Táxi

Entro no táxi em Congonhas, às 7h20 da manhã. 
Na direção uma senhora, bem maquiada, óculos escuros grandes, cabelo vermelho escuro, unhas vermelhas, muito bem vestida, com brincos, cordão, pulseira e relógios dourados. Enfim, super produzida. O carro é um corolla automático. Um som alto dentro do carro. Tocava música sertaneja. Saiu do aeroporto com os vidros abaixados falando com todo mundo, dando adeusinhos e sorrindo. Pareceu estar de bem com a vida. Diante do meu pedido, ela respondeu: "posso fazer um caminho alternativo? O trânsito está complicado hoje". E partimos. Ao longo do caminho ela zapeou o rádio dezenas de vezes. E comentou: "tá cada vez mais difícil achar música boa". Passou boa parte da viagem no seu iPhone trocando mensagens. Lá pelas tantas, notando que eu prestava atenção no que fazia, ela se virou e disse: "É meu netinho, ele faz anos hoje. É lindo. Quer ver?"

Uniforme

Ponte aérea de hoje das 6h10 da manhã.

Passa a atendente falando alto que o vôo das 6h10 está fechando e perguntando se tem alguém nas filas ainda esperando para fazer checkin nesse vôo.
Uma senhora, na fila ao lado, chama a atendente e mostra um papel impresso. Enquanto a atendente da Gol olha o papel, a senhora fica olhando a atendente por inteiro, e diz: "Uniforme novo?" Com as pontas dos dedos, a senhora toca a pontinha da gola da blusa, tinindo de nova, como se estivesse tentando descobrir o tipo de tecido.
A atendente responde sorrindo: "Como a senhora sabe que é novo?"
A senhora olha por cima dos óculos e diz: "Olha só, ainda está vincado. É a primeira vez que você usa. Está muito bonito, mas a cor é muito forte". Ainda sorrindo, a moça exclama: "é a cor da companhia".
As duas continuam falando por quase um minuto. No final, a senhora diz que está viajando para ver o filho "que trabalha na outra cidade", que "ele paga a passagem" e "que gostaria que ele morasse na mesma cidade dela". Por fim, ela abre a bolsa, tira um tupperware, pega um brigadeiro e dá para a atendente, dizendo: "Esse tupperware inteirinho é para meu filho, ele adora brigadeiro, mas ele está gordinho, por isso um brigadeiro não vai fazer falta e você foi muito atenciosa comigo".